Rev. DERC (Online) 2020; 26(3): 148-152
Valor do Teste Ergométrico na Fibrilação Atrial Permanente: Análise das Principais Variáveis Cardiovasculares
Resumo
Introdução:
A fibrilação atrial permanente ou crônica (FAP) é a arritmia sustentada mais comum na prática clínica associada à significativa morbimortalidade, entretanto são escassos os dados da literatura sobre as análises da capacidade funcional (CF) e das variáveis cardiovasculares (CV) obtidas pelo teste ergométrico (TE).
Objetivo:
Avaliar a eficácia e segurança do TE em portadores de FAP.
Métodos:
Estudo observacional, retrospectivo, com pacientes portadores de fibrilação atrial crônica (FAC) que foram submetidos ao TE. Foram analisados: a CF em METs, o comportamento hemodinâmico (RC e Δ PAS), reserva coronária (infradesnivelamento do segmento ST) e arritmias ventriculares induzidas pelo esforço (AVI). Os protocolos utilizados foram o de Bruce ou Bruce modificado. Foram analisadas, também, eventuais complicações do TE. A provável etiologia da FAC foi dividida em: a) cardiopatia isquêmica; b) cardiopatia valvar; c) miocárdica dilatada ou hipertrófica; e d) idiopática. Todos os exames foram realizados em vigência de medicações de uso habitual (digital, betabloqueador, amiodarona ou antagonista dos canais de cálcio).
Resultados:
Dos 88 pacientes (p), 62 (75%) eram do sexo masculino e a média de idade foi de 62,9 (52 a 85 anos). A CF estimada foi de 6,52 (+/- 2,6) METs, correspondendo à fraca aptidão aeróbica pela American Heart Association (AHA). 54 p (61,4%) apresentaram déficit inotrópico com Δ PAS médio de 31,4 mmHg. 34 p (38%) apresentaram AVI, sendo essas predominantes na FAC de etiologia isquêmica e miocárdica. A frequência cardíaca (FC) máxima atingida foi de 171,4 bpm, com RC exacerbada em 38% dos pacientes, mesmo em uso de fármacos com ação cronotrópica negativa. Déficit cronotrópico significativo (>20%) ocorreu em 4 p (4,5%) e esteve associado à pior CF (< 5METs). O infradesnivelamento do segmento ST induzido pelo esforço ou adicional acima de 1,5 mm ocorreu em 46 p (52,8%), sem correlação com a cardiopatia isquêmica da FAP (p=0565) pelo teste exato de Fisher. Não ocorreram complicações durante ou após a realização dos TE.
Conclusões:
Neste estudo, o TE foi seguro e útil na avaliação clínica e hemodinâmica de pacientes com FAC. Observamos, nesta população de pacientes, uma menor capacidade funcional, resposta deprimida da PAS no esforço, e FC exacerbada. As AVI durante o TE foram predominantes no grupo de FAP de etiologia isquêmica e miocárdica, e o infradesnivelamento do segmento ST não teve relação com os portadores de FAP com cardiopatia isquêmica.
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